segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Crônica do destino

Vejam só como é a vida, em “tom de acaso” ela nos prega peças que nos surpreendem. Ontem, logo pela manhã, quando adentrei na TV Jataí para mais um dia de estágio, subindo as escadas para cumprimentar a equipe da televisão, antes do término dos degraus, dou de cara com a Fabélia, repórter e apresentadora da TV Jataí. Minha intenção de dar um bom dia a todos foi interrompida ali mesmo: fui convidado pela repórter para fazermos uma matéria sobre a vida de pessoas na terceira idade que moram sozinhas. Descemos as escadas antes mesmo que eu as vencesse em sentido oposto.
 
Entramos no carro de reportagem, eu, a Fabélia, e o câmeraman Joãozinho, e nos dirigimos à casa de uma senhora de quase oitenta anos, que mora, sozinha, antes passando por uma panificadora onde a repórter comprou uma dúzia de pães de queijo, cumprindo uma promessa que havia feito à senhora, de que a entrevista seria acompanhada por um café da manhã. Logo ao chegarmos à humilde casa de dona Dulce nos adentramos, o portão estava aberto, e só fomos bater palmas quando já estávamos na área de serviço.

Dona Dulce foi receptiva como uma matriarca que mata a saudade da família que há tempos não aparecia. Não tínhamos nenhum grau de parentesco, mas naquele momento era o que representávamos para ela. Após termos nos acomodado, a repórter, sempre muito falante, começou a perguntar coisas relacionadas ao cotidiano de dona Dulce, que levava a prosa em perfeita harmonia, só ficando um tanto desconfortável quando ora e outra dirigia seus olhos curiosos em direção à câmera, que até então se encontrava desligada por falta de bateria. No momento em que a simpática senhora dirigia seu olhar ou seu sorriso a mim, uma espécie de sexto sentido se faz presente, algo me chamava atenção naquela mulher.

Pelo andar da carruagem, a entrevista seria bem sucedida, já que dona Dulce correspondia bem a nossa empolgante curiosidade sobre sua vida. Em um dado momento da conversa, ouço-a dizer o seu sobrenome, Rodrigues, e, coincidência ou não, meu sobrenome também é Rodrigues, depois mencionou o nome de um de seus filhos, Elmínio. Neste momento um fato do passado se fez presente em minha memória, no passado uma de minhas tias trabalhava para um moço com este nome, e Elmínio não é um nome tão comum na cidade de Jataí.

Depois de alguns minutos de conversa, e um saboroso café que aromatizava toda casa, a repórter anunciou que a entrevista começaria, agora logicamente com a câmera em condições de uso. Dona Dulce se mostra pronta, mas um pouco nervosa. Com o papo fluindo entre repórter e entrevistada, eu tentava voltar minha atenção as técnicas usadas pelo câmera e pela própria repórter na construção de uma entrevista, mas o papo agradável me colocou na posição de espectador. Com a abordagem de assuntos como experiência de vida, solidão, dia-a-dia, aposentadoria, (benefício este que dona Dulce conta há vinte anos), eu fui me distraindo com a conversa e observando o semblante daquela senhora que não esconde em sua face suas várias primaveras vividas.

Ao fim da entrevista, com a câmera desligada e jogando conversa fora, comento com dona Dulce sobre minha tia que provavelmente havia trabalhado para seu filho Elmínio. Ela pergunta o nome de minha tia, no que prontamente respondo; Nedina. Surpresa ela me diz que Nedina é sua sobrinha. A partir deste momento talvez aquele sexto sentido começasse a ter lógica. Dona Dulce me pergunta de quem sou filho, quando a respondo que Maria Helena é minha mãe, ela prontamente diz antes mesmo que eu terminasse a frase, “Eu sou sua tia-avó, sou irmã do seu falecido avô Juca!” Naquele momento lhe pedi sua benção e nos demos um abraço, percebi que dona Dulce, minha tia-avó, estava com os olhos banhados em lágrimas, mas com um sorriso nos lábios, confesso que também fiquei emocionado, agora percebia que seus traços físicos eram idênticos aos do meu avô Juca, pai de minha mãe. Vó Dulce convidou para que a visitasse sempre que possível, e que levasse minha família.

Além de cumprir com o dever de estagiário, ganhei uma “avó” que nem sonhava existir. Será coincidência? Destino? Não sei definir tal situação. Sei que valeu a pena seguir o que considerei sexto sentido, os minutos que conversamos foram suficientes para fazer meu dia bem melhor.

Por: Rogério Rodrigues

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