segunda-feira, 11 de março de 2013

Meretrizes do Jornalismo



Já tem algum tempo que o Senhor Jornalista é desvalorizado, se não me engano, isso vem desde que nossos antepassados, talvez Homo Sapiens, exerciam a profissão. Para os leigos e desinformados, nós, comunicadores, somos pessoas privilegiadas, bem remuneradas e cobertos de brilhantismo.  O brilho em alguns casos pode até ser, mas a remuneração é uma coisa que ainda causa indignação em nossa classe como um todo. Boa parte disso se deve ao fato de que historicamente a cultura do “qualquer um pode informar” devastou a sociedade e se fez descer goela abaixo como verdade, e outra parte se deve ao fato de que nós mesmos não nos valorizamos, somos as meretrizes da comunicação.

Quando me refiro ao termo meretriz, não menciono de forma ofensiva, a maior parte delas merece respeito e são mais dignas que muitas mães de família e muitos jornalistas. Nós, comunicadores, principalmente recém-formados, somos verdadeiras putas da profissão pelo simples fato de nos entregarmos ao mercado de trabalho por qualquer preço e seguindo suas regras e preceitos estabelecidos a força.

Boa parte das meretrizes valorizam-se, especializam-se, tornam-se experientes e por fim tem seu preço, ponto final. Elas possuem seu piso salarial, caro leitor, e paga quem quer. Isso não as faz menos prestigiadas, isso as faz mais cobiçadas e valorizadas. E nós? Somos mesmo, em boa parte, putas de esquina, com pouco prestígio e quase nada de valorização. Porque as Personals Love, as especialistas do sexo, as namoradas de aluguel, são acompanhantes de luxo e se dão ao respeito. Elas tem experiência, nós também. Elas podem ser gotosas, nós competentes. Elas se dão ao valor, e nós não.

Mas essa porra nunca vai mudar se nós continuarmos a topar tudo por qualquer balela. Somos jornalistas meus caros, e devemos nos portar como tal. A queda do diploma foi para os graduados o mesmo que a queda do World Trade Center para o governo Norte Americano. Foi uma paulada na nossa cara. Você passa quatro anos sentado em um banco de universidade, estudando e custeando um bacharelado, para conquistar um diploma e nossas leis fazem uma grande fogueira, queimando todos eles juntos só pra ver subir a fumaça. Então porque não excluem este curso das faculdades e universidades já que o diploma não vale nada? Eu digo por quê. Porque nenhuma empresa que tenha responsabilidade com a informação e com o público com que se relaciona, seja esta pública ou privada, vai contratar um comunicador que não seja graduado, que não tenha competência acadêmica comprovada para tal função.

Caro amigo leitor, não precisa ser uma empresa midiática para falarmos de tal assunto. Empresa nenhuma de qualquer ramo que seja, de médio porte acima, sobrevive no mercado sem comunicação. Nenhum governante arrisca trabalhar pelo povo e não anunciar seus feitos, porque se não souberem positivamente do seu trabalho ele não se reelegerá. A sociedade vive a informação e esta é a arte que produzimos.

Os que nos valorizam devem ser também valorizados. Os que pedem o seu diploma e seu histórico com certeza não levam os filhos aos dentistas sem graduação ou compram gasolina em posto sem bandeira. Se a experiência somente basta, queria muito que liberassem meu avô para dirigir, afinal ele tem experiência de 56 anos de volante e nunca tirou a Carteira Nacional de Habilitação, mas a polícia insiste em dizer que ele está errado. Poxa vida, mas ele é um exímio motorista. Mas assim como no trânsito, no jornalismo também o uso inadequado e irresponsável da comunicação pode fazer grandes estragos.

Nunca disse que não ter diploma diferencia o bom do mal profissional de comunicação, mas difere muitas outras coisas dentro do ramo. Tem muita gente boa na área trabalhando apenas com os dias de luta e com uma bagagem nas costas. Mas isso não impede de que a classe graduada se organize e pare de aceitar tudo o que lhes é proposto. Ora, nós somos formados Senhor Mercado de Trabalho, temos nossas despesas, estudamos, nos especializamos e fazemos jornalismo não como hobby, mas como ganha pão.

Já ouvi muita gente falar que jornalismo é para qualquer um, que se você souber ler e escrever você pode ser um jornalista. Não tenho mais saco para discutir isso com pessoas retrógradas que pensam assim. Mas para sermos ao menos uma semente que visa mudar esse quadro não adianta enfiar isso na cabeça das pessoas, devemos em um primeiro momento nos valorizar, acreditar que somos merecedores, nos dedicarmos ao reconhecimento da classe e buscar conhecer nossos direitos, assim como nos desdobramos nas redações, nas edições, nos estúdios, em campo, nas assessorias ou sei lá mais em que área você atue.

Em suma devemos nos valorizar. Nosso trabalho é essencial para toda sociedade. Comunicar jornalisticamente exige responsabilidade, dedicação, ética profissional, conhecimento de causa, talento e porque não diploma. Faça seu trabalho valer á pena. Geralmente fazemos o que amamos, e nós amamos jornalismo, mas amamos também reconhecimento e valorização.