sexta-feira, 11 de maio de 2012

Maconha: A fábula do preconceito. Uma história que não pode ser contada.


Desde criança que ouço usarem a palavra “maconheiro” para fazerem referência aos marginais, bandidos e principalmente a adolescentes baderneiros e infratores. Desde menino que ouço algum desavisado dizendo que maconheiro não presta, que deveriam ser todos presos ou exterminados. Quando são, menos tolos e se julgam superiores, dizem: “coitado. Ele é assim porque não sabe o mal que a droga faz. É um viciado”. Desde criança que ouço pais de famílias afirmando que é preciso ter cuidado com pessoas estranhas, cheias de piercings e tatuagens, que podem estar vendendo drogas disfarçadas de doces na porta das escolas.



Mal sabem eles que os supostos “maconheiros” podem não estar necessariamente ligados a estas características. Mal sabem eles que o ato de fumar canabis não leva necessariamente uma pessoa a bater carteira. Ou pior, nem suspeitam que não em raras ocasiões, quem oferece um baseado ou outras substâncias para a galera são seus próprios conhecidos. Quase sempre gente que conhece a família do cara, gente de confiança. São os "caras gente boa. Os caras boa pinta”.


O preconceito é algo que está impregnado na nossa sociedade. Sinto que há uma má vontade de que descubramos algo escondido nas entrelinhas. Parece que buscam usurpar o nosso direito a informação real das coisas. A superproteção dos pais é necessária, é o papel deles. Se seus pais não te privarem das coisas ruins quem o faria? Ninguém. A proteção dos pais não é questionável. Isso é uma coisa, mas crescer e não buscar o porquê das coisas é tolice.




A população brasileira, em sua maioria, infelizmente é ignorante em relação a droga chamada popularmente de maconha, e isso é uma tristeza. A mídia e os políticos, que deveriam promover o esclarecimento da população em geral, buscam desviar o assunto ou tratá-lo somente como algo desnecessário. A justificativa é: Maconha é ruim é ponto final. É difícil explicar agora, em todas suas vertentes, algo que desde sempre foi nos enfiado goela a baixo como deturpador e destruidor de lares.


Para quebrar o mito de que a maconha é a porta de entrada para outras drogas é que se faz necessário que as pessoas busquem informações sobre o assunto, debatam o tema com maturidade e procurem ver estudos científicos que divulgam o fato. Procurem saber por que o álcool é sempre aceito pela sociedade. Porque pais de família, em muitas das vezes, não proíbem os filhos de 13 ou 14 anos a consumi-lo e incentiva desde criança o seu uso, mesmo inconscientemente, pedindo pra buscar uma caixinha de cerveja no mercado da esquina. O álcool pode ser a porta de entrada para as outras drogas e ninguém toca no assunto. Seria porque o marketing sobre o álcool é feito diariamente e todo mundo tem direito de beber umazinha? Seria porque o IPI sobre bebidas alcoólicas, um dos mais altos sob produtos industrializados, faz bem pro governo? O tabaco também pode ser porta de entrada para outras drogas e não se fala muito nisso. Seria porque as empresas do ramo geram bilhões de reais em lucro para os cofres públicos, e esses mesmos bilhões não são investidos em saúde pública no que se refere a problemas decorrentes do cigarro?



Álcool e tabaco são mais danosos, mais nocivos, mais viciantes que a marijuana e isso deve ser esclarecido. O inegável está ai, mas continuam a fazer da maconha a maior vilã. A canabis vem sendo usada em pesquisas de campo no auxílio a dependentes de crack e cocaína (relaxa e diminuí o estresse decorrente da síndrome de abstinência da química). Há anos ela vem sendo usada em vários países no tratamento de pessoas com glaucoma e nem por isso os doentes ficam viciados. Essa mesma “vilã” é coadjuvante no tratamento de pessoas com câncer (aumenta a fome e tem efeito analgésico) em vários estudos que estão dando certo e isso não é mostrado. Maconha, álcool e tabaco são drogas que podem prejudicar a saúde? Sim. Mas não necessariamente nesta ordem. O consumo vai da consciência de cada um. O preconceito também.



A legalização seria um passo importante para todo o processo. O Brasil caminha a passos lentos para tal perspectiva. Quantas crianças não seriam afastadas do tráfico? Quantas guerras entre quadrilhas rivais ou entre traficantes e polícia seriam evitadas? Quantas vidas não seriam poupadas com o fim das trocas de tiros principalmente nas periferias? Se álcool e tabaco são vendidos na conveniência da esquina e o governo agradece por isso, qual o problema de regularizar a venda também da canabis? Com a arrecadação gerada sobre o produto seria sábio investir em saúde, educação e segurança pública, em combate a corrupção e em campanhas educacionais sobre a droga. A repressão ao tráfico, que sempre existiu e sempre existirá, é de suma importância, no entanto se a maconha fosse liberada os consumidores conscientes com certeza não alimentariam o tráfico. O consumo sempre existiu e sempre existirá. Estados Unidos, Espanha e Portugal caminharam alguns passos rumo à legalização e a marginalidade e a violência resultante do tráfico caíram consideravelmente. A forma como é feita a repressão no Brasil resulta no aumenta da violência e do consumo.


Não é uma questão de defender o uso da maconha. Não é aprovar o uso da planta como opção medicinal. Não se trata de fazer apologia ao uso da droga. Isso é apenas um manifesto para que as pessoas busquem compreender melhor o que se passa a nossa volta e parem de “entender” as coisas segundo ideologias préconcebidas. Quando compreendermos que somente o conhecimento pode contribuir para o desenvolvimento humano teremos uma sociedade com ordem e progresso.

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